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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

como foram minhas últimas férias...

Fui uma criança "traquinas" - daquelas bastante curiosa e corajosa - o que me trouxe como resultado na vida: uma juventude mais atenta e cuidadosa e uma maturidade de planejamento e precaução. Muitas vezes isso faz a espontaneidade ir embora e deixa a vida um tanto "previsível e segura"; mas é prático, maduro e desejável... Será?
Tirei 8 dias de férias em uma Fazenda, com uma amiga de infância e suas filhas - um dos objetivos, além do "descanso" era recobrar lembranças e vivências do infantil.
No dia em que chegamos o Júnior tinha salvo dois filhotes de quati e fomos ver, ele estava cuidando dos dois, do cachorro, dos papagaios, da mulher e da filhinha que era uma bonequinha, senti confiança: adoro quem goste de bicho e criança: é sinal de ser boa pessoa.
O dia acabou... Então, nada melhor que dividir o quarto com uma colega de 9 anos, acordar entre 5h30 e 6h da manhã, levar o copo de chocolate para beber "shake" direto da vaca, arrear os cavalos e montar a manhã inteira. Eu tenho esse registro de lembrança infantil - também tenho um tombo a cavalo aos 12 que nunca esqueci...
Enfim, avisei no primeiro dia: "olha me veja um cavalo velho e mansinho, porquê agora que sou velha já não tenho toda coragem que tinha..." e assim o "cavalariço" - peão da fazenda fez.
Me deram o "Paraná" um cavalo de 10 anos - o que deve equivalente aos meus 38 anos: esperto mas nem tão ligeiro assim, com o decorrer da manhã, a medida que eu mesma me sentia confiante e soltava a rédea ele foi mostrando que sabia fazer sozinho (muito além da minha vontade) que sabia "tocar os bois sozinho - independente de quem estava sobre ele". Gostei! Falei espantada pro peão: "puxa ele faz o trabalho sozinho..." ao que ele respondeu "verdade: o Paraná ensinou todos os cavalos aqui da fazenda..."; fiquei orgulhosa, estava montando um cavalo experiente - não tão viril, mas esperto! Paramos para comer manga e eu até descasquei duas mangas prá ele, os peões riram a beça: "ô Letícia, não precisa descascar a manga pro cavalo..." mas fiz questão: e vendo que ele se babava fiquei satisfeita, mesmo tendo que limpar as mãos na calça.
No dia seguinte fomos a estância, onde funciona a sede da fazenda. Lá os peões que nos acompanhavam (o Júnior e o Dinei) avisaram o Biscuila que eu era medrosa, eu não vi mas imagino que foi isso que aconteceu porquê o tal peão que não me conhecia veio debochando com um cavalo chamado Pretinho prá eu montar e avisando: "olha que esse empina" - eu respondi: "moço, você está brincando com coisa séria, eu tenho medo sim e cavalo sente, se ele empina melhor eu nem montar..." Quando eu vi que era brincadeira, subi no cavalo e fui "quase sem medo". Pús na cabeça que era só ficar perto do Junior que não ía ter problema nenhum, e assim fui. Mas caso foi, que o tal Júnior foi chamado a montar um cavalo cego do olho direito e que eu, estava andando na ída, à esquerda... Fomos ao campo buscar os bois - e na volta, eu vinha à direita - pois apenas dei a volta... E esqueci o lado cego do cavalo. Acontece que boi, assim como carneiro, é "fácil" de levar, mas as vezes, um deles se rebela, e outros vem com eles, nesse movimento, perto da segunda porteira, paramos para realinhar os bois.
Nessa, eu estava indo, e o cavalo cego, foi prá perto da porteira, pois não me viu, e me prensou na cerca: comecei a gritar: "ai minha perna... aiaiaiaiaia..."- ouvi: "solta as rédeas que você vai perder a perna!!" Apavorei e soltei: paft! O barulho do meu corpo se chocando no chão. Quando olhei prá cima, vi o susto na expressão de 5 peões e da menina que estavam comigo pensei "f-o-d-e-u", vieram me levantar, pedi prá ninguém mexer em mim, demorou para sentir o corpo de volta: doía tudo, me levantei. Ouvi um deles perguntar: "e agora o que você quer fazer?"- foi muito rápido, pensei no mico de levar o cavalo na mão ou pior, subir na garupa de alguém, nem pensar... sou velha e medrosa, mas ainda um tanto orgulhosa: andei até o cavalo me agarrei na cela e disse "Caralho!! Vou subir no cavalo!" Um peão disse "o que você disse doutora?" e eu respondi "eu sei: caralho é algo que eu não tenho, mas você não quer me ver chorar e desistir agora né? S'imbora..."
E aí, montei todos os outros dias, sem o mesmo sentimento de apreensão.
CONCLUSÃO:
O novo habita dentro de nós, o medo incontido acontece de coisas que sabemos que podem acontecer e acontecem. Mas cair, se machucar - processar, xingar - levantar e seguir: é tudo parte de um processo, estranho, contudo: muito natural. A vida é cheia de tombos. Então, o que nos resta é seguir...
E os outros dias, sem o Pretinho, pois não voltei mais na estância: todos em parceria do Paraná, foram dias em que nós dois: um cavalo e uma mulher - ambos experientes (e um tanto velhos) nos divertimos muito juntos.


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